sábado, 9 de fevereiro de 2013





Todos estão agasalhados. Uns vêm em familia em busca da parte em falta. Outros acabam o turno e vão saindo enquanto se despedem dos que ainda ficam, mostrando que o dia a dia não será só trabalho rotineiro mas há também espaço para relações pessoais. Outros vagueiam como se o relógio tique-tasse como quem corre no ginásio sem de lá sair. Esses são os iguais a mim, mas que ainda tentam descortinar um local suficientemente confortável para passar umas horas.

Passar uma noite num aeroporto é coisa do pós 09/11. As lowcost apareceram e viajar de avião passou a estar acessível aos caretas também. Resumidamente é uma experiência cansativa que evita  um quarto de hotel por um par de horas e privanos de um banho rejuvenecedor pela manha. Na verdade, é um exercício mental bem forte para que o nosso pensamento vagueie por temas variados com toda a calma do mundo. Por vezes fazem-se amizades e aprende-se sempre qualquer coisa. Compilar experiência de noites nos hoteis "out of the loundge" daria um guia muito agradável de se ter à mão quer na planeamento da viagem quer na viagem.

Fazer esticar as nossas ações é um truque para baixar o nosso ritmo e deixar-nos levar pela noite pacata mas nunca silenciosa que aparece nos aeroportos. As lojas de roupa são sempre as primeiras a fechar, depois os restaurantes, os pequenos cafés, até que só as máquinas de vending ficam radiantes à nossa disposição.
Nesta altura, uma bebida e um chocolate para a noite tem que já estar connosco no nosso lugar. Um excelente lugar é um lugar almofadado, encostado a uma parede para termos privacidade nas nossas costas. Se for um canto melhor. Hoje em dia é muito difícil ter wifi de borla, mas às vezes há cafés que dão a password o que nos facilita imenso a noite. As tomadas eléctricas existem sempre, mas só nos aeroportos mais antigos estão em locais fáceis de nos permitir carregar as baterias dos telemoveis e computadores. Aqui no aeroporto de Bermen existe um sítio chamado "Rosso Expresso Bar" e enche-me a alma ser atendido em italiano pela familía que gere aqui no negócio. Também me lembro que a minha resolução de 2010 era aprender a falar italiano...parece que a resolução de aprender dinarmaquês em 2013 pode estar ensombrada. O expresso é "magnânimo"!

Por imposição legal, pelo menos na europa, durante um periodo da noite os avioes nao podem levantar nem aterrar perto das cidades, o que faz com que os aeroportos perto das cidades fiquem realmente calmos à noite. É uma calma absoluta se excluirmos todo o pessoal da limpeza que aparece cheio de energia, com carrinhos de esfregonas, baldes do lixo, e até pequenos carros eléctricos a encerar o chão. É um concerto do qual é difícil abstrair.

A minha aventura começou em Vejle no dia 22 quase perto das cinco da tarde quando a noite se tinha instalado com todo o vigor de quem festejou o pino do solstício na véspera. Estão menos dois graus e só dentro da estação de comboios se pode esperar mais de 15 minutos.

A primeira dificuldade é ser sábado e portanto o bilhete tem quer ser comprado na máquina. O menu em inglês tem as opções todas, mas só se pode pagar com cartão ou moedas as 215 coroas dinamarquesas. Pedir a uma dinamarquesa para pagar o bilhete com o seu cartão e aceitar o nosso dinheiro é o equivalente a um vagabundo dizer quer ir jantar a nossa casa. Perante tal pedido, não se pode recusar, mas não é algo que seja fácil de se fazer especialmente porque não é de livre vontade. Temos pena, mas eu precisava do bilhete até porque na Dinamarca há sempre revisor nos comboios.

Dois comboios depois e estava em Sønderborg onde aparentemente só estavam -1C...mas o vento transformava numa sensação de -11C segundo o weather.com. O vento ora varria a neve de cima para baixo como a varria de baixo para cima. O André Godinho está só a uns minutos, mas tenho que me esconder por detrás de um telefone público para tentar cortar o vento. O André vivia no RasmusRask em 2007 e dada a distância até ao CMK só mesmo nas festas grandes é que nos iamos encontrando. A verdade é que naquele ano de 2007 ficou para sempre uma máfia com tentáculos por toda a europa que atualmente já chegam à america latina e não vejo que vá ficar por aqui.

Acabadinho de chegar de dois anos em Benjim, o André está de volta à Dinamarca onde já faz vida de casado com a sua ex-namorada de 2007, a Luzia.

Aterro em casa deles para dormir e acabo por ter direito a jantar e pequeno almoço. Às sete da manha o carro alugado na alemanha uma semana antes, mas ainda usado ontem à noite, está completamente coberto de neve com uma espessura de 3 a 4 cm. As estradas estão transitáveis, mas vai ser uma viagem com calma e muito vento.

Acabamos por chegar a Hamburgo a tempo do voo deles para Lisboa e claro eu tenho o dia por minha conta em Hamburgo antes de apanhar o BUS às três da manha directo ao terminal da Ryanair em Bremen e bem a horas de fazer o checkin.

A Hamburgo fico impressionado com as estação central, mas preocupo-me mais encontrar a estação de autocarros mesmo que tenha visto que ha cacifos para a minha minha já longa companheira nestas viagens EASTPAK.  Se calhar devia dar-lhe um nome, mas a verdade é que também é devido o tributo à marca que faz malas que aguentam tão bem os milhares de km que a minha já fez e continuam imaculada como se tivesse um mês de uso.



A estação de autocarros está ao alcance visual uns 300 metros ligeiramente à direita para quem está de costas para a estação central. Está a chover e a neve tira o seu disfarce e afinal é gelo a fugir para a água com traços de lama. Estou mais preocupado com as minhas sapatilhas do que com a EASTPAK que ora rola, ora navega sobre o gelo ora sobre os passeios empedrados, ora sobre o asfalto. A estação de autocarros é ao ar livre com uma grande cobertura de vidro e uma pequena zona para os agentes e os seus minúsculos balcões. Há um grande placard que mostra as partidas e lá fora ao frio cada cais de embarque tem o seu placard. Em lado nenhum há previsões do meu BUS das três da manha, mas percebo que há alguma coisa estranha porque não vejo nada sobre a empresa à qual comprei o bilhete online. Fiz uma pesquisa no google com hamburg+bremen+ryanair e cliquei no primeiro resultado, criei um mbnet, paguei 16euros e imprimi o bilhete. Confesso que fiz uma pesquisa na wikipedia sobre a empresa e não me inspirou muita confiança mais fui no "arrisca tudo".

Tenho muito tempo porque o meu voo é só no dia seguinte. Rapidamente pesco um segurança e confirmo que a empresa é desconhecida. No balcão da berlim qualquer coisa, dizem que não sabem dar informacoes porque não sabem mais do que o que eu vi na internet. Em poucos minutos há já uma comunidade unida e meia organizada que usa o espanhol para confirmar que todos temos a mesma historia. Bilhete comprado na net há poucos dias. Há quem já tenha feito este trajecto com esta empresa e confirma que aparecia sempre no placard. Hoje nao aparece e ao contrario de mim quase todos têm voo para Alicante às três da tarde e o BUS do meio dia e cinco nem está anunciado nem aparece. Há um porta voz eleito por ser mais velho e ser alemão. Veste bem e nota-se que usa a via diplomática ao telefone. Há um cowboy alemão que fala espanhol porque já viveu em espanha varios anos. Este compreende a cultura e tem um pouco do temperamento latino. Quando fala com os almeães consegue transmitir a frustração do grupo. Rapidamente, até porque o tempo é limitado para a maioria, o "diplomata" é requerido para chamar um taxi de 9 lugares. Mal a chamada é terminada, o pedido passa para dois taxis de 9 lugares. Ponho-me à disposição para entrar na partilha do taxi se fizer falta para completar um dos taxis. Tenho tempo para comprar um bilhete de comboio, mas um taxi partilhado é uma aventura mais difícil de conseguir e a ultima vez que o fiz passámos um "rouge" e cheguei mesmo a tempo de ser o último a fazer checkin, a passar a porta de embarque e finalmente a entrar no avião. Toda a gente sentadinha à minha espera: foi bonito!

Acabo por ficar em Hamburgo e conhecer o João, um Português que ... é da FEUP. Está em Hamburgo a fazer a tese de mestrado e vai como eu para o Porto. Juntamente com o cowboy, que também tem tempo, ficamos à espera do BUS que agora aparece como vindo do aeroporto num dos cais. 

O motorista é naturalmente alemao e naturalmente não faz grande esforço para falar em inglês, pelo que deixo o cowboy "do the talking". O motorista está com pressa e vai para o aeroporto nos próximos instantes. Eu entro agressivo porque quero saber se vou ter autocarro ou não, mesmo já tendo decidido que não vou arriscar ficar até às três da manha para ter a minha confirmação. O motorista tenta pegar na minha mala e mete-la no porão do autocarro, e claro, faço-lhe finca pé ao que ele me responde: "Bremen!!" Acho que este é o autocarro que devia ter vindo uma hora antes e o motorista está visivelmente incomodado com o facto de não estar a cumprir o horário.

Jogo a meu favor e pergunto-lhe pelo autocarro do meio dia? Ele mostra-se impaciente e indaga-me : "Bremen?! NOW!" Ao que lhe pergunto o que é faço com o meu bilhete para o induzir em erro, deixando-o acreditar que o meu bilhete era para o meio dia e não para as três da manhã. Empresas lowcost têm clientes lowcost! Ele está desconcentrado e pensa que não tenho bilhete e diz-me que compro dentro do autocarro. Digo-lhe que já comprei bilhete na net e tenho então a ordem dele para entrar no autocarro. TUGA 1 - MERKEL Soldiers 0! Acabei de trocar um bilhete que não ia usar por um bilhete last minute duma cidade onde a chuva não me ia deixar ver nada para uma cidade chamada Bremen!

Arrancamos do cais e com uns 20metros percorridos ouve-se uma buzina e a lei de murphy é cruel com o pobre do motorista. Dois autocarros, o nosso de uns 50 lugares e um autocarro gigantesco de três partes acabam de bater. Aperta a fome ao nosso motorista e ele grita por "xixa"!! Não percebo estes alemães!! Sai do autocarro e passado uns cinco minutos vem a espumar-se...o outro motorista quer chamar a polícia mesmo que seja só um espelho partido no seu autocarro. Meia hora depois lá chegam a um qualquer entendimento e arrancamos para Bremen.


Uma vez em Bremen eu e o João vamos ao centro que parece que vale a pena com o bónus de haver um mercado de natal. O centro de Bremen é qualquer coisa...tenho que cá voltar com menos gente para conseguir desfrutar da cidade. Parece ser um destino de fim de semana bastante bom.




Christmas Tree at Bremen City Center


Panoramic from the Xmas's Market at Bremen


... to be continued..or not.

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