sábado, 1 de dezembro de 2012

Quase  5 anos depois as rodas detrás do avião tocam no chão, a trepidação sente-se pelo corredor fora enquanto centenas de metros de pista voam por baixo de nós. O trém de aterragem da frente toca no chão, os motores são invertidos e estamos de volta onde tudo começou. Dinamarca !

"Onde é que queres estar daqui a 5 anos?" Tive que responder a esta clássica pergunta, precisamente numa aula de gestão em Odense. Em cinco anos desejava o curso acabado e um emprego já com alguma experiência. E é precismamente nessa condição que estou hoje de volta, com mais de dois anos de experiência no mundo de trabalho e um novo emprego à minha espera.

A minha decisão de mudar não foi uma decisão abrupta nem consequência de uma só causa. Sonhar, planear e alcançar são momentos que podem anteceder tanto o sucesso como o insucesso. Qualquer que seja o emprego haverá sempre gente que se encaixa, gente que não se encaixa. No meu caso sei que encaixava bem na EFACEC, e acredito que posso encaixar ainda melhor na SIEMENS.

A Ryanair volta a ser a companhia escolhida, não pela sua qualidade ou preços, mas porque é a que realmente tem uma oferta infindável de voos, com inúmeros destinos e bastantes horários.

O plano é voar do Porto para Bergamo e daí para Billund, mesmo ao lado da Legolandia. :) As regras se calhar mudaram, porque eu já embarquei só a dizer o código do bilhete, mas desta vez, mais uma vez tive que ir imprimir ao que já não se chama Espaço Cota. No natural reboliço, nunca seleciono a impressão a preto e branco.

Xixi da viagem, carregar o telemóvel no ATM de sempre e check in feito. Não procuro indicações sobre onde é o terminal, porque este terminal começa a ser mítico, não para mim, mas para centenas de jovens que vagueiam pela europa à procura de melhores estudos, melhores férias e cada vez mais, melhores empregos.

Voamos há já imenso tempo e eu vejo umas séries no ipad. Noto alguma agitação nas cabeças e percebo que devem estar a fazer algum aviso aos altifalantes. Ignoro no primeiro momento, mas sou sacudido da minha indiferença pela gravidade a empurrar-me lateralmente!! Agora ambas as filas espreitam sincronizadamente com o movimento do avião enquanto eu tento tirar rapidamente os phones, o que faço a tempo de ouvir "Bergamo". Ora muito bem, já vamos aterrar!! Mais de uma hora depois calculo eu, a hospedeira acorda-me e diz que vamos aterrar. A Italiana ao meu lado explia-me que estivemos a voar aos circulos e que não podiamos aterrar. Questiono-me se a razão de tal situação provinha do nosso avião ou de algum problema no aeroporto. Num instante estamos com as duas malas de porão, a bagagem de mão e alguma fome, no terminal do aeroporto. É demasiado cedo para fazer checkin e tenho que arranjar onde almoçar com as malas e ficar a ocupar a mesa por mais tempo.

Rapidamente o tempo passa e estou sentado a ver o Padrinho I enquanto a sala se prepara para encher de gente, principalmente Dinamarqueses provavelmente reformados que vieram a Itália gastar as Krones.

Billund, na verdade achava que já tinha estado neste aeroporto, mas agora que olho para um aeroporto moderno, grande e espaçoso sei que estive foi no aeroporto de Aarhus. É segunda feira, e ainda não são 19:00. Houvem-se os passos de uma senhora que está a uns 50/80 metros de mim, o aeroporto parece um aeroporto fantasma. Tento levantar dinheiro porque o bilhete de avião tem que ser comprado no próprio BUS. Cai, e havia de continuar a cair, uma chuvinha molha tolos que me faz ficar abrigado à espera que o cais 8 seja preenchido por um autocarro com destino a Vejle.

Ainda o autocarro não parou e eu já vi o edificio da SIEMENS. :) Não passou uma horita desde o aeroporto e a chuva continua a cair e eu não tenho mapa para me orientar mas sei que é perto. Tenho três malas, duas com rodas e um oldfashion saco da Goldman que teima em não se segurar no topo da minha super mala da Sansonite. Não é muito fácil andar nestes passeio a fazer equilibrismos e a chuva está mesmo a atrapalhar. Encontro com alguma facilidade o Australia Hotel onde peço indicações.





A PARVA da gaja enganou-me e mandou-me para o lado errado. Resultado só muito depois encontro o caminho certo e estou em frente à porta do hotel do qual vou apenas de precisar de introduzir o código na porta debaixo e o mesmo código na porta do meu quarto. Fácil, simples e confortavel. Há café e chá na "Kantine" do hotel, e só por sorte é que ao segundo dia via a rapariga que recolhe a loiça e faz a limpeza dos quartos quando os hóspedes deixam o hotel. É um intermédio entre hostel e hotel. Não mudam as roupas todos os dias, mas um quarto não é uma camarata. Gosto do conceito!


Tenho dois dias para passear pela cidade e para ver se gosto da casa onde agora escrevo o post. O meu primeiro dia na Siemens também o é para outros colaboradores. Uma pequena empresa de aerogeradores, com 400 trabalhadores foi há poucos anos compradas pela Siemens e somos hoje mais de 8000. É um desafio para a organização e para a gestão. Os genes Alemães e a necessidade provavelmente fazem com que na recepção seja atendido com uma eficácia mordaz e em segundos o meu Manager está a descer as escadas. É-me dado o meu cartão de acesso com o respectivo suporte e pendura que sinaliza também que sou colaborador da siemens e não externo. No primeiro andar os convidados podem aceder às diversas salas, mas no segundo piso apenas à cantina e daí para cima só fitas azuis ou vermelhas. A cada andar, um torniquete obriga ao uso do cartão para aceder às diferentes áreas. Camaras e sensores identificam paralelamente quem está a usar o cartão.
Sou convidado a tirar de imediato uma fotografia mais informal para o organigrama da empresa. Subimos então ao segundo piso, e por fim ao terceiro piso onde rapidamente sou apresentado a quase toda a equipa de engenheiros eléctricos e também à Signe. A Signe é provavelmente a pessoa que eu mais chateio e a quem estou constantemente a interromper e a questionar. Na KEMA chamavam-lhe "middle office" e eu nunca os vi. Enviava emails e as coisas aconteciam. A Signe é igual, mas está ali ao lado.

É-me explicado o conceito de secretária livre, onde o primeiro a chegar escolhe uma qualquer secretária e liga o seu PC à dockstation. Em cada secretária há um monitor, uma dockstation e um replicador de portas (que funciona também como uma dockstation). No final do dia, a secretária volta a ficar vazia. Há pelos vistos mais 25% de colaboradores do que secretárias, e eu num mês inteiro nunca tive problemas em encontrar um sítio para estar. Delicio-me com duas dockstations em cada secretária, uma para eu ter em casa e... nada mais nada menos que secretárias eléctricas que sobem e descem com a delicadeza de carregar num botãozinho apenas. Eu que nunca consegui a dockstation que pedi na Efacec, e só tive uma mesa mais alta porque coloquei quatro tacos de madeira debaixo da minha mesa, ... tenho agora a prova que estava certíssimo. Eu já o sabia, claro! Quando estamos certos é muito fácil sabê-lo, e só fica complicado quando estamos errados, tudo porque por vezes também não deixa de nos dar a sensação de estarmos certos.

Falta apenas um elemento da equipa de engenheiros electrotécnicos, e junta-se a nós os quatros a Signe e nada mais do que o chefão do departamento do departamento de Offshore Engineering para o pequeno almoço de boas vindas. Começou aqui a minha engorda.

Voltemos ao momento em que sou guiado até ao meu cacifo onde já está o meu nome colado e no qual tenho um pack de boas vindas que vai desde uma caneca da siemens, até a uma dockstation para ter em casa, passando por um galaxy S II, um rato sem fios e um headset bluetooth. Tenho também duas prateleiras com o meu nome para guardar um saco que no primeiro dia ainda estava vazio, mas que onde agora está o meu equipamento de segurança.

Vamos ao 4º piso ver como está a andar a preparação do meu PC. É-nos dito que só daqui a meia hora vou poder ter o PC. Aproveitamos para uma "safety walk" pelo edifício para regras e noções básicas. Indicar onde e como estão assinalados os extintores, o que fazer em caso de alarme pode parecer uma perda de tempo dada a improbabilidade disso vir a acontecer fora de um simulacro. A verdade é que na sexta feira passada houve um alarme real de incêncio e o edifício foi evacuado em segundo com todo o sucesso que se pode esperar.
And time to London calling Viajar enche-nos a alma, eventualmente esvazia-nos os bolsos, mas faz-nos felizes!

É inevitavel, pelo menos até à data, mas para mim dormir em locais improvaveis, em condicoes improvaveis deixa-me com um sorriso satisfeito.

Algures num Enterro em Braga muito antes da Holanda ou da Dinamarca foi aberta a porta para este post. O Chocapic conheceu a Maria (nome fictício a pedido da vítima) A Maria acabou o curso, foi para outra cidade e alguns anos depois (em 2012) disse adeus ao trabalho seguro, bem pago, bem visto, bem cobiçado e veio para Londres. Estamos já na segunda casa da Maria e em breve vai para a sua nova casa. Esta é uma verdadeira casa de forasteiros. Não parece imperar grande regra senão o apelo constante à tolerância. Percebo que o ambiente é semelhante a um trapezista que caminha em direcção à grandeza do sucesso com a certeza que o falhanço lhe aguarda o abraço.

É demasiada gente, demasiados convidados e provavelmente demasiada rotatividade entre os que ficam e os que partem. Este espaço não vai ficar para o ano seguinte e já não há preocupação em fixar a fuga de água no quarto de banho. Chegámos tarde e já toda a casa dorme. Aqui todos vieram para Londres para trabalhar, à procura de muito. Compreensivelmente todos lutam para juntar dinheiro e manter a busca de um emprego menos precário e mais na sua área, em Inglaterra.

Apenas o graffiter parece fazer o que gosta. Todos os outros trabalham para manter o trapezista sem cair.


Londres prepara-se para os jogos olímpicos, mas a chuva não pára. A cidade está em obras sempre constrangedoras para o dia a dia, mas a capital britânica tem já cálo de receber milhões de turistas, e por isso a grande diferença está na requalificação da zona mais degradada.

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