segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Check in

Procura-se meio de aqui voltar !!! Morto ou Vivo
Lá fora o Sérgio já arrancou e eu estou com um sorriso nos lábios. Estou de volta aos "check in" nos aeroportos. Este aeroporto, é o meu aeroporto e portanto sinto-me em casa e pronto pra mais uma aventura. Obrigado ryanair ! :D

O destino é Girona e o avião deve partir às 20:05, é um agradavel final de tarde, não à previsões de problemas com kilos extra na bagagem e estou bem a tempo de embarcar. A Xoaninha liga-me e afinal não me vem dar um beijinho antes de eu ir para esta aventura, para agravar a situação, tenho que trazer um postal e temo esquecer-me.

Faço o check in, e despacho os queijos e os vinhos para o porão, comigo fica uma mala de tamanho consideravel onde vai quase toda a roupa para sete dias. Vou ao único bar/snack do aeroporto e como uma sandes acompanhada de um lata de coca-cola que ainda não consta na minha colecção.

Dou uma vista de olhos pela free duty shop de artigos tipicamente tugas e para trás já ficou o controlo de segurança passado sem dificuldades.

Deambulo até à porta de embarque que deveria abrir-se dentro de momentos e arranjo um lugar bem posicionado na fila para embarcar. O tempo passa e só bem mais tarde lá vêm o avião da nossa amiga Ryanair cheio de gente feliz por voar por tão pouco (dinheiro e conforto). São chutados do avião e as malas depressa atiradas para fora. Como de costume apenas houve tempo de dar umas pancadinhas nos motores, certificando que não cairão, e todo o lixo dentro da máquina voadora ficou espalhado. Faz lembrar aqueles passeios da escola onde depois da primeira paragem já se via papeis de rebuçados por todo lado.



Com todo o tempo perdido à espera do avião, não à certeza que consiga apanhar o autocarro para o destino final: Zaragoza. Ao meu lado está um casal catalão que devem ter à volta de trinta e cinco anos. Lá meto conversa, mas o meu espanhol erásmico não chega para perceber tudo que dizem. Pergunto se conhecem Girona e explico que preciso de apanhar o autocarro para Zaragoza.

Eles são precisamente de Girona e dizem que muito dificilmente conseguirei apanhar o autocarro Barcelona - Zaragoza. Girona - Barcelona é certo pois este espera pelos voos, mas depois parece que vai ser complicado.
Tento saber sobre a estação e eventuais sítios para dormir pois sou estudante e as minhas prioridades económicas não se alinham com pagar um dia num hotel para o usar por cinco ou seis horas quando toda a gente sabe que o dia tem vinte e quatro horas. :S

Reparo que falam disfarçadamente entre eles, num mermúrio rápido e surdaz. Posso não entender as palavras, mas entendo a intenção. A mulher negoceia com o marido a minha estadia em casa deles. Um silêncio quebra o mermúrio e pouco depois ele dirigi-me a palavra explicando que decidiram dar-me dormida em casa deles em Girona. A casa é a 12 km de Girona centro e amanha de manhã levam-me a uma paragem de autocarro onde posso continuar a minha viagem.

Por instinto faço-me um pouco surpreendido, agradeço e explico que o Dani (SP) me dirá quando aterrarmos se devo ou não tentar apanhar o autocarro. É o meu Jean Todt, que me escolheu a estratégia para a corrida, e agora com estas novas condições terá que repensar e dizer-me o que devo fazer.

O avião toca na pista e não há italianos a bordo, pelo menos "terrones"- ninguém bateu palmas.
O casal catão não tem malas, mas tem pressa e pede-me que decida quanto antes. Faço a chamada ainda nas escadas do avião e percorro a pista saudando o Dani do outro lado da linha. A conversa desenrola-se numa comunicação difícil onde explico que só agora vou buscar as malas. Entretanto uma espanhola olha-me descaradamente olhos nos olhos como se me conhecesse. Desvio o olhar porque ela não o fez e continuo a explicar ao Dani em que pé estamos. O telefone salta da minha mão para a do catalão e volta à minha, volto a olhar para trás e lá está a miuda a olhar para mim insistentemente.

Porra, lá está ela a olhar para mim como se me conhecesse..... ui.... não me sai o nome da Carina mas o meu cérebro dedica um pouco de tempo e voo no tempo até ao ciclo creio eu onde encontro aquela cara e, toda a informação começa a aparecer. É a prima da Célia e pelos vistos os anos fizeram-lhe bem. Adicionou-me ao MSN ainda eu estava em Odense não sei bem como e agora encontro-a no aeroporto de Girona. Faço-lhe sinal para esperar um pouco e despacho o Dani. Agradeço aos catalães, deixo o meu contacto e pergunto se não se importam de esperar um pouco que mesmo não indo dormir a casa deles gostava de lhes presentear com uma das várias garrafas portuguesas que tenho na bagagem.

Dois beijos à Carina, e voltamos a falar depois de tantos anos sem nos ver. É enfermeira, e trabalha em Girona e descobrimos que viemos no mesmo avião. :) Troca de números de telemóvel e aqui vou eu para o autocarro que me há-de levar para Barcelona... isto se eu o descobrir a tempo.




Cerca de setenta quilómetros depois chegamos à estação de Barcelona - Norte e um autocarro cruza-se conosco. O motorista pergunta ao autifalante da estação se o último autocarro para Zaragoza já saiu, e a resposta é imperceptivel.

Dez minutos depois confirma-se o pior...uma noite na estação de Barcelona Norte. Quinze minutos depois descobre-se a realidade . . . a estação está efectivamente fechada e a noite será ao relento no meio de gente perdida na vida.

Na estação, ainda que do lado de fora, está muita gente que espera ligação. Uns porque o autocarro ainda não chegou, outro porque como eu querem ir para Zaragoza. É mesmo desses que eu preciso. O ambiente não é hostil, mas não dá para adormecer com as malas, vagabundos co-habitam com passageiros e um descuido pode estragar as férias. Pergunto aqui e ali sobre o horário da estação e sobre a possível hora do meu autocarro. Vem ter comigo uma miuda, espanhola, que quer confirmar a informação que lhe pareceu darem-me. Sim, só mesmo às sete da manha teremos autocarro para Zaragoza mas pelo estamos três no mesmo barco. Eu ela, e o rapaz que tá com ela. Precisamos de um quarto de banho, duma tomada eléctrica para carregar o meu telemóvel e de verificar a que horas abre a estação, pois parece que às cinco da manha podemos ir para dentro dela.

A conversa rapidamente se desenrola e inevitavelmente começa-se a falar das aventuras erasmicas que para mim acabaram à um punhado de dias mas para ela já lá vão três anos que deixou Manchester. Falamos em inglês, porque ainda que estejamos na nossa peninsula, faltam-me por vezes palavras no espanhol e o meu sotaque também não é o melhor.


Para trás já está a estação norte de barcelona e todos os tolos que lá passaram a mesma noite incluindo o tolo que fez uma tentativa muito discreta para nos roubar um saco e a tola que manteve uma longa conversa com o seu amigo imaginário mesmo em frente à máquina dos chocolates. Já chegámos à estação de destino, pelo menos acredita-se até então, em Zaragoza. Troca-se mais uma vez de contactos e sou guiado até ao sítio mais provavel que a Cristina venha ter, pois acabo de lhe ligar e do outro lado atendeu um monstro chamado ressaca e que me pediu uns minutos até me a Cristina me vir buscar.

Aproveito e tomo o pequeno almoço e, finalmente, encontro uma tomada num recanto da estação e carrego por cinco minutos o meu telemóvel que já estava morto.

A Cristina teima em demorar, mas não dou conta do seu atraso consideravel. Afinal a pobre coitada já cá esteve na estação e teve que voltar para casa porque não trouxe o telemóvel com ela e por isso não me pode ligar a perguntar onde eu estou ao certo.

Finalmente ela tenta ligar-me. Rejeito a chamada e ligo-lhe de volta, porque ela já me vai dar de dormir. Eu digo-lhe que estou na café da estação e ela pede-me para vir cá para fora que já nos encontramos. Cinco minutos passam e a chamada repete-se para certificar que a informação trocada estava certa. Aparentemente tudo está certo e a Cristina manda-me perguntar a alguém se estou na estação chamda Delicias - ai, ai que isto não me está a acontecer !!!

Corro para dentro do café. O raio da mulher ao balcão está com muitas calmas e teima em não olhar para mim enquanto a minha chamada internacional decorre com a Cristina a indagar-me do outro lado a cada dois segundos. Por fim lá consigo confirmar que estou nas Delicias e não em sarilhos como por momentos pensei.

Volto para fora, e descrevo o que vejo à Cristina que, pobre coitada, está com uma tremenda ressaca, o que vejo. - Dois autocarros vermelhos e um deles acaba de arrancar, explico-lhe eu. Do outro lado uma alegria estoura e confirma-me que estamos no mesmo sítio, apesar de incrivelmente - ou não - não nos vermos.

Dez minutos depois ainda estamos sem nos ver... Investigo a estação e descubro que há muito mais do que julgava, ligo à Cristina e peço-lhe que venha ter à Avis porque de certeza será única em toda a estação, ao contrário do café e das cafetarias.


A Cristina pára por momentos em frente ao portão que se abre lentamente. Estamos num luxuoso condomínio fechado numa das provavelmente zonas mais caras de Zaragoza. Descemos directamente para o piso menos um e deixamos o Audi aparcado no seu sítio. Subimos de elevador enquanto a Cristina ainda explica, quase sempre em inglês, toda a sua manhã dedicada à minha busca à estação sobre uma forte ofensiva do alcool ingerido na noite anterior.

Passamos pela sala, pequena mas cuidadosamente decorada, e vamos para a muito agradavel varanda ao sol onde os dois Lucas (it) tomam o pequeno almoço. É a festa total, vive-se um ambiente único e muito difícil de explicar. Ao jeito do reclame da JB onde os amigos se encontram numa ilha para uma festa. Afinal de conta, a Cristina e o Luca viveram juntos o último ano que passou, tendo eu juntado-me a eles durante cinco meses.

NOTA - Nesta parte do post não foi possível descrever o momento vivido por falta de conhecimento literário para o efeito - as minhas desculpas.




Tenho a certeza que ainda não estou na cama à oito horas apesar de não saber nem a que horas me deitei nem que horas são. Julgo que o telemóvel não tocou à muito tempo, mas não posso ter certeza. Porque sei que ele voltará a tocar se não lhe der atenção resolvo ver as horas e aproveitar para ver quem me mandou a mensagem.

Abro um olho, porque não quero ver mais do que o necessário. Logo abro o outro e pisco ambos para conseguir ler a mensagem sem me baralhar. A Messi está a pedir ajuda... ainda não estou a carburar, mas estou em alerta pois assim como eu não falo hungaro, ela também não fala nada que se pareça com português ou espanhol.

Saio da cama e vou ao quarto da Cristina. Passo-lhe o telefone e fico à espera que ela repita os paços que eu dei à um minuto atrás na minha cama. Daí a dez minutos estou eu e a Cris de volta às Delicias. De volta às delicias e de volta aos telefonemas seguidos pois voltou a ser complicado encontramo-nos. Por fim, estamos os três abraçados e toda a gente olha para nós.

Mais uma manha, mais um pequeno almoço na varanda com a piscina lá no fundo. Mais um momento único e incrivelmente difícil de descrever.

Um mês depois cinco erásmicos estão juntos de novo e mais gente vai chegar ainda hoje.

Ainda nessa tarde a envergonhada Maria juntou-se a nós. Pelo meio ficou mais um mergulho na piscina, onde só os rapazes participaram. Sem dúvida que ter uma piscina em casa é meio caminho andado para se melhorar a condição física.


Visitámos a cidade, vimos o Pilar, e calcurreamos as ruas de Zaragossa, debaixo de um calor quente e próximo dos 40º. Comemos gelados, bebemos coca-cola e rimo-nos muito. Vi onde era a casa da Maria em espanha primeiro do que a da dinamarca. Provavelmente já só em foto a poderei ver, porque estranhamente nunca estive em casa da Maria e da muito simpática Iro (Gk).

Estamos todos em casa e o Dani não apareceu ainda. Desde ontem que anda para aparecer, mas ainda não tivemos essa felicidade. Entretanto já fomos ao supermercado ali perto e a cozinha está cheia de sacos com comida igual à que há no Continente do tio Belmiro, mas para a Messi há coisas que a deixam curiosa. É giro ver que afinal isto não é uma aldeia global e que já ali ao fundo da nossa europa há gente que nunca viu caracois ou camarão. No supermercado os latinos safam-se bem melhor porque jogam em casa, mas eu tento imaginar-me num supermercado hungaro e acho que era goleada. :)

Tocam à porta, a Cristina abre lá em baixo e daí a pouco tempo está o Dani (FINALMENTE) à porta !! :D :D :D Vem cansado porque esteve a trabalhar, mas a ideia de se juntar aos Lucas, a mim, à Messi, e às duas Zaragonenses ( :S ) dá-lhe forças para aguentar um abraço colectivo.

Daí a pouco num momento que prova que o machismo não é coisa tuga, as miúdas ofereceram-se para preparar o jantar enquanto nós fomos jogar à bola na piscina.

(Nota do editor - quando foi para arranjar o carro eu fiz-lo sem achar que houvesse feminismo da parte da condutorA)
Somos diferentes e não vale a pena ter hipócritas.

Machista era se eu aqui fizesse referência que eu consegui cozinhar ainda que não tão bem, e que nenhuma das raparigas presentes conseguia arranjar o carro, mas eu não vou dizer isso.

Joana, tou a brincar ctg !!! AVANÇA !! ;) :D

O jantar tava fabuloso !! O que é que era ? - Era um ambiente demais. Se houvesse algum engenho que medisse a alegria certamente ali só poderia estar um de tamanho industrial.



Depois...






( . . . )










Acordámos para mais um pequeno almoço na varanda com a piscina lá em baixo a sorrir. Amanha vamos a Alcaniz conhecer "los pápis" da Cristina. O medo está instalado entre itália e portugal, faz-se lá saber porquê. :) :) :)


O dia brilha como sempre brilhou em agosto na península Ibérica, mas só depois de ter estado meio ano no norte da Europa é que tomo consciência que efectivamente o nosso clima é qualquer coisa de fantastico. Percebo que sejamos inundados de turistas de pele branca, mesmo que sejamos, por vezes, muito incompetentes na hotelaria.

Pequeno almoço, na mesa da varanda onde se houvem já gargalhadas dos putos que certamente acordaram às oito para ir para a piscina. Enquanto reconfortamos o estômago eu e o Luca, bergamasco, construimos vários planos de fuga caso alguma coisa corra mal. A Cristina está chateada porque fizemos merda.

Vamos para o carro já com mais um mergulho para não estragar a média. :) Os termómetros já mostram a razão do suor pelos transeuntes, estão já quase 40º. Vale-nos o Audi com um fresco ar condicionado, caso contrário estavamos bem fudidos. Os Italianos querem ver o deserto, mas a Cristina vai-lhes explicando que não há nada para ver. O deserto não é mais que uma paisagem àrida onde passa a estrada... o nosso alentejo é bastante parecido e é capaz de ter mais camelos. (desculpe os compadres, mas isso aí é abaixo da fronteira do Rio Douro).


O carro pára numa zona residêncial, onde os lugares sobram. São casas geminadas, com bom aspecto sem dúvida. Há nervosismo no banco de trás e nem toda a gente quer sair do carro. A Mãe da Cristina vem à porta recebermo-nos. É nova, bonita e trás um sorriso acolhedor, mas nós continuamos preparados para o pior. São feitas as apresentações possíveis pois ela não fala inglês.
Por dentro a casa é extremamente confortavel e bonita. Nota-se que há gosto na decoração, sem que se deixe de poder usar a casa por causa dos cacos. Subimos para o primeiro andar, onde há uma cozinha. Procuramos um homem armado, escondido num canto mas ele afinal não vem almoçar. Por momentos há uma troca de olhares em jeito de vitória, e no momento seguinte ao momento de descompressão a Mãe da Cristina entra a pé juntos e começa o interrogatório. A falta foi feia e viola as regras do fair play. Ela, com uma cara Pidesca aponta o dedo dum jeito balístico e interroga-nos sobre a noite passada. A tradutora vai tentando fazer as vontades à inquisidora e aos culpados - eu continuo sem mostrar sinais de saber falar espanhol.

As questões atropelam-se, mas sempre com uma atenção incrivel para escutar as respostas traduzidas. O gelo parte-se com um sorriso aqui e outro ali, e derrepente passamos para a parte onde falamos espanhol (os italianos tentam...) e o ambiente fica bem menos hostil.

Sentamo-nos à mesa e a pobre Mesi que já se sentia perdida com o Espanhol, tem agora à sua frente um prato cheio de animais que ela nunca viu. O ar dela é de quem sempre viu o céu azul e agora mostram-lhe que está doutra cor qualquer. A explicação dada pela cozinheira não serve de nada, pois é em espanhol, mas a Cristina apressa-se a traduzir e a Mesi inicia-se nos camarões. Toda a gente olha para ela que vive num País sem coisas destas.

Dai a nada estou a jogar na equipa da Mesi. Temos à nossa frente caracois, e a ambos não agrada a ideia de sugar os pobre coitados. Eu resolvo que não há-de ser nada e avanço, encorajando a Mesi que adora animais e que tem a Toupeira como o seu favorito.

A perguntas abrandaram mas de longe a longe lá vem a história da "Escalera". Já vamos no terceiro prato, coelho, e começo a não ter espaço para comer mais nada, mas lá fui até ao fim da sobremesa que estava fresquinha.

Somos convidados a jantar, e não temos por onde escapar à emboscada. O jantar fica para almoço do dia seguinte e sempre nos dá mais algum tempo. Vamos jantar fora e ver Alcaniz, a provincia mais pobre de Espanha - amanhã conhecemos o velho. :D

Tanto medo, e afinal o Pai da Cristina só se ria com a história da "Escalera". Tivemos sorte afinal a fera era mesmo a Mãe e acabou por achar piada. :)

São qualquer coisa horas da tarde, o Sol está a pique e estou todo suado. Chegámos já de manha, depois de ter encontrado o Juan, irmão da Cristina. Na varanda é impossível estar descalço tal é a temperatura do chão. Tal como na outra casa, aqui há uma varanda que nos deixa ver a piscina.

Fomos para a piscina, e depois de um refrescante mergulho já estamos a prelongar a nossa dormida na piscina. A sombra ao lado da àgua, e o cansaço já acumulado fazem com que aquela soneca seja inevitavel. A Cristina ficou a dormir no quarto dela com a Maria e a Messi. Era suposto acordarmos às seis da tarde, mas só às sete é que acordámos.

Vamos jantar, mas primeiro num desvio repentino a Cristina vira à esquerda e desaparece por detrás de uma cortina manhosa de cor roxa duvidosa. Ficamos incertos no que fazer, mas isto ainda continua a ser Erasmus onde vale tudo e o Luca L. manda avançar como se fosse a coisa mais normal do mundo entrar num sítio com tamanho aspecto surrealista-badalhoco.

Lá dentro reina a desorganização provocada e o imperador chama-se Calimoxo. Estamos na provincia mais pobre de toda a Espanha e acredito ter levado o meu corpo até ao sítio mais estranho da região. O chão está sujo, e as paredes grafitadas. Os sofás parecem já ter servido de cama a alguns cães, pois faltam pedaços enormes de esponja. A mesa, não é uma mesa, e a televisão não é televisão e só o frigorifico parece ser o que é. Na dita mesa, está uma perna de presunto ganha num qualquer concurso espanhol. Nota-se alguma euforia pela nossa presença. Afinal nós é que somos os erasmus.

O place é mantido por um grupo de amigos/as (foto) da Cristina. Dividem a renda por todos e antes das festas é ali o ponto de encontro onde há também um quarto de banho e tudo. O candeeiro não é mais que um saco papel vermelho vivo virado ao contrário. Nunca visto...


Por fora parece algo moderno, mas lá dentro temos rapidamente a noção que é um tasco como outro qualquer, mas sem espaço. O espaço é mínimo mas o ambiente torna-se muito agradável. Jantamos tapas porque a Mesi e os Lucas nunca tinham provado. Aqui esperei mais de uma hora por um café que não bebi. A razão era só uma e válida: não havia máquina de café. Enfim, o homem acabou por ter piada, eu é que estava a precisar de um café.




De Alcaniz fomos para Lagarta. Onde fica Lagarta ? Ninguém sabe. Fica algures junto a uma ruinas património mundial. São as ruinas da cidade que foi destruida nos anos loucos que Guarnica anunciava. Lagarta não é nada mais que um lugar onde o irmão da Cristina soube que ia haver um festival dos rastas men. Como isto afinal de contas ainda é erasmus, metemo-nos no super audi da Cris e lá vamos nós.

Temos uma tenda, e somos cinco no carro. Lá, vão ter também o Bikendi e a Maria :D . Não levam tenda. Parámos num qualquer supermercado antes da viagem e temos o que importa: Boa disposição e espirito de aventura. Há também comida.

O mundo é pequeno, mas imagino que eu fosse o único Tuga naquele festival e a Mesi a única Húngara. A noite foi comprida e eu fui o único que me deitei durante a noite. Já com o sol espânico a aparecer, o pessoal regressou da abafada e toxica tenda. Daí a momentos o sol está a pique o termómetro galopa. Está impossível. Está impossível, na tenda, nos carros, ao lado da tenda, entre os carros... enfim. É agosto não há àrvores à volta, porque também não há àgua. Dois dias aqui sem àgua devem ser suficientes para se morrer. É um mini deserto.

Tentamo-nos recuperar e metemo-nos no carro. Vem o Luca, The animal, a conduzir e a viagem não é tão arriscada como a vinda. O escape já não vem solto e por isso já não há o problema da vibração a velocidades maiores.

Vamos dormir a Zaragoza, mas a Cristina ainda tem de ir para Alcaniz no dia seguinte. Ela pede-nos para não usarmos nenhuma escalera, porque se não os pais matam-na. :) Nós prometemos não fazer mais loucas asneiras.
É um momento triste mais uma vez. A diferença é que há um sentimento que somos mais do que eramos naquela triste e fria noite em Odense. Agora provámos que nos conseguimos manter próximos. Há mais vida depois de Eramus - pelo menos fazemos todos por acreditar que sim.

Obviamente o tempo dilata-se no seu espaço e nós podemos ir à piscina for a fast swimming! Depois, e com a preciosa boleia SEAT do Bikendi vamos jantar à sua capital basca na casa dos seus pais. Lá há mais um reencontro que eu não vivo. A gira irmã do Bikendi esteve em Odense durante o primeiro semestre. Parece haver uma grande cumplicidade entre ela e a Mesi. :)

Os pais dele recebem-nos maravilhosamente e dado o incrivel adiantado da hora eles ja jantaram e a Mãe basca prepara-nos um jantar. Simples, mas deliciosamente memorável. Com direito a uns chouriços assados de entradas com um pão cozido não há muito tempo, passámos para um prato de carne e batatas fritas de pacote com murcela (sangue). Entendo pela primeira vez que murcela quer dizer sangue na minha própria lingua.

As nossas caras só podem mostrar dias e dias de loucura ao longo desta semana, pois a Mãe basca quer-nos fazer um enorme cabaz de comida para levarmos para o camping. Acabamos por levar um queijo e um chouriço que no dia seguinte só poderam saber maravilhosamente devinais. :)

O Bikendi tem que trabalhar no dia seguinte e por isso estamos por nossa conta, mas já decidimos ficar apenas este dia no parque de campismo. Acordámos já o sol ia alto, mas a posição estratégica da tenda deixou-nos na sombra por mais algum tempo. Arrumámos tudo e à desgraçados conseguimos que todo o nosso estendal fique guardado no armazém do bar do parque de campismo. Com um mapa paupérrimo que não é mais que um panfleto que descreve a localização do parque entre rotundas, vamos a pé com destino ao centro da cidade. Ao longo do enorme caminho percebe-se que a cidade está a crescer muito. Há edifícios a ser construidos por todos os lados.

No ponto turistico até italiano falam, mas ambos os Lucas já se acham os campeões do espanhol e desbravam perguntas à rapariga num espanhol não é mais que um misto de italiano com inglês erasmico com uma pitada de sotaque espanhol. A rapariga aprecia o esforço e responde a tudo e enche-nos de mapas e folhetos turisticos.

Ao final da tarde o Bikendi liga-nos para nos encontramos e damos umas voltas mais guiadas pelo centro onde ficamos a conhecer a história do Santo padroeiro da cidade. - é como em todo o lado - a borracheira está sempre na origem da festa. O Santo padroeiro de Vitória é o maior bêbado da cidade e por isso adorado. - Medieval !!!

Andámos pela cidade, e ainda experimentámos um jogo tipicamente basco, que não é mais que uma demonstração de força, virilidade e masculinidade. Até pode ser que tenha piada, mas o ténis tem outra classe eu já nem isso aprecio. Fica uma foto para colorir o amontoado de palavras que aqui rabisco numa tentativa tonta de descrever o que andei por lá a ver. Já passou e agora só serve para recordar.
O campo de jogo ainda tem a sua dimensão como se vê na foto.



Daqui e já com o sol basco a caminho dos irmãos independentes, despedimo-nos do Bikendi que nos acaba de deixar na estação de autocarros. Vamos em direcção a norte para que o Luca Locateli satisfaça o seu desejo de ver o oceano atlântico. Compreendo, porque afinal eu fui ao báltico e trouxe de lá uma pedra para nunca me esquecer que lá estive. Parece tolo, mas não é mais do que ir à praia e de lá trazer um concha. Tolos são os que são, e nós somos o que somos e todos cá andamos. Haverá diferenças ? Já no autocarro há tempo para se descançar um pouco e fazer um jantar com os restos que há na mochila. Hoje, já quase em novembro, lembro-me do sabor do queijo e do salame. Sem dúvida que não vale a pena serviços e etiquetas para se apreciar a comida e a vida. Não vale mesmo. Digam o que disserem, riam o que se quiserem rir.

Não sabemos bem a que horas vamos chegar a S. Sebastien nem onde vamos dormir, mas isso não há de ser nada que não se resolva com um sorriso misto de alegria e cansaço. Será que a Monolisa foi retratada num momento Erásmico. :D



O Luca acredita que se pusermos as malas no bagageira do taxi vamos pagar mais. Eu, como tal nunca tinha ouvido, digo-lhe que a máfia italiana ainda não se internacionalizou da sua península para a minha ! Acabámos por não pagar mais, mas pelos vistos a máfia italiana já foi vista a operar pela ibéria. E não é que há mesmo taxistas que cobram por levar as malas na bagageira ?!? E depois eles é que são assaltados !!

Subimos uma enorme colina, com uma estrada em caracol que nos deixa no que parece ser o único parque de campismo dentro da cidade. Neste momento o meu papel é mais imporante no grupo, porque já não temos espanhois entre nós e a Messi vai vendo os seus tradutores desaparecerem neste país de língua estranha. Na recepção do parque de campismo, parecem contentes por saber que afinal o tipo que ligou à momentos não é argentino ou mexicano. Fico com a sensação que se calhar chegou a haver apostas sobre a nossa nacionalidade, mas quando lhes explico que sou português, e somos mais dois italianos e uma húngara, eles arregalam os olhos e é impossível alguém ter acertado.

Já escuro e vai ainda haver um autocarro dali para o centro da cidade. Há que montar a tenda sem grandes alaridos, mas sem luz vai ser difícil. Pedimos assistência técnica aos vizinhos mais próximos e eles entram em pânico. Não falam espanhol. Para nós parece normal e mudamos para inglês. Do outro lado vem a típica pronúncia já muito comentada e que nos deixa com um sorriso. São franceses e o sotaque deles é comparavel ao sotaque dos Lucas a desbravar a fundo pelo espanhol.

Na paragem, mesmo ao lado dos contentores do lixo e do eco ponto, há um cheiro a eucalipto a queimar e um outro grupo quebra o silêncio nocturno com uma guitarra e vozes afinadas com Corina. Estamos quase a desistir da espera, mas o autocarro aparece e nós lá entramos. Somos exactamente cinco, e pouco mais caro fica o taxi. A partir deste momento não mais largámos os taxis de S. Sebastien !

Estamos completamente de rastos, mas damos uma volta pela cidade e identificamos a rua dos bares. Aqui parece que estamos no algarve tal é a quantidade de bêbados que deambulam pelas ruas num zigzag típico.

Amanha vamos à praia, mas para já o imporante é dormir que acontece muito rapidamente.

Sou acordado por uma mulher que me fala em espanhol. Custa-me por momentos arrancar o cérebro, mas evidentemente que a toalha já está na àgua porque a mulher está mesmo ali e a àgua salgada de S. Sebastien bate-lhe pelos tornozelos.

Subi várias vezes todas as toalhas, os sapatos e as mochilas. Por fim lá chegou o resto da malta. O Luca, the animal, faz a sua cara de espanto ao perceber o quão perto da parede já estamos. Teriamos visto as nossas coisas a boiar naquele oceano tão espanhol como português.

Há um escorrega lá longe na àgua e eu desisto de lá ir. Sem dúvidas que não sou capaz de ir e voltar com especial ênfase para o meu corpo que pede para dormir.


Quando chegámos à praia o cenário era do Luca Locatelli contemplar-se com o oceano Atlântico. Não importa que a àgua esteja atlanticamente gélida porque nós queremos é mesmo ir à àgua e no areal não há espaço para mais ninguém.

Estamos no pino do verão, no pino do dia e precisamos de nos alimentar. La mierda de la ciesta lixa-nos a vida porque não conseguimos encontrar nada aberto e depois de dar umas voltas pelo centro da cidade resolvemos montar o acampamento à porta do que nos pareceu ser um micro supermercado. A espera resulta e quando os ponteiros tocam nas três da tarde, as formigas voltam a sair das tocas e a cidade ganha vida daquela gente que recomeça a trabalhar.

Em S. Sebastien houve ainda tempo para trazer um copo da Coca-cola para a minha colecção, comermos vários gelados, passearmos, rirmo-nos, ouvir os Lucas horas a fio a discutirem sobre matemática e claro ir para night !

Eu desde Zaragoza que não tenho a minha carteira comigo e por isso o Luca L. empresta-me mais dinheiro que eu dai a nada deixo-os no centro da cidade e vou dormir mais cedo. O Autocarro parte cedo e não tenho certeza quando vou voltar a vê-los. A Messi tá preocupada comigo e não só. Não que ela esteja preocupada de ver-me a partir a seguir a já ter ter deixado para trás quem sabia efectivamente saber falar espanhol. Ela sabe que dentro de dias está em Odense e todos os outros estão espalhados algures nesta velha europa que afinal ainda tem tanto para descobrir.

A noite foi arriscada com os italianos a galgarem nas tapas, bar após bar em jeito de cruzada del máfia. Isto está cheio de ingleses que arrotam notas de euros e os espanhois não se preocupam muito com a facilidade que se pode sair sem pagar. Os Lucas aproveitam e eu e a Messi assistimos a tudo aquilo à distância.

Chego à estação de autocarros e não sei onde é que é suposto apanhar o autocarro para Barcelona. Não há muita gente e da pouca que há, a maioria não merece a minha tentativa. Um autocarro é grande e não ha-de aqui passar sem que eu o veja. Apesar da matinalidade da hora há um cafézinho aberto. Compro uma àgua e peço informações. Estou mesmo ao lado da sede da empresa onde vou viajar. Na fila já está um gajo com mau aspecto a dizer-me que dificilmente haverá lugares porque os bilhetes também são vendidos pela net. Percebo que a informação não é propriamente válidade e corto-lhe a conversa. Lá consigo o meu bilhete e ainda fico para trás a ajudar uma pobre Mãe inglesa que comprou os bilhetes pela internet e não percebe o que o espanhol lhe pergunta.

Entrar para o autocarro é uma sensação de relaxamento total. É garantido que vou chegar daqui a algumas horas à capital da catalunha, só não sei se a mala está do lado certo do autocarro. Não é um problema para o momento e adormeço.

A parte mais difícil e arriscada da viagem está feita e acabo por chegar ao aeroporto demasiado cedo, mas não me arrependo. Podia ter corrido mal e não tinha mais dinheiro comigo. Havia de ser bonito, um atraso, um avião perdido um sarilho encontrado. :D

Tomo a minha segunda refeição no aeroporto que já me é familiar e reconhecerei em quaisquer imagens que volte a ver. É pequenino, espanholamente sujo, e com muita gente.

Com tanto tempo pela frente almoço com calma e deixo o tempo passar calmamente apesar de já estar estafado e só vir a chegar a fafe no dia seguinte.

Já farto de estar naquela mesa onde as moscas dominam o espaço aéreo e o lixo domina o terreno, saio em busca duma tomada eléctrica para carregar o meu telemóvel. Aproveito para mandar uma mensagem ao Sérgio que irá pela segunda vez ao aeroporto buscar-me no mesmo dia. Claro que eu só lá vou chegar às oito da noite e por tanto às oito da manha, apesar de ter atterrado um avião já gasto da ryanair, o Sérginho voltou pra cama sem me ter dado boleia!! Quando lhe mandei a mensagem não estava propriamente atento e não disse que as oito eram da noite. :S

Encontrei a única tomada disponível no aeroporto e instalo-me junto dela à espera que o telemóvel carregue. Já não é essencial ter bateria, mas quando chegar vou precisar de confirmar que o Sérgio está lá. :D

Do meu sítio vejo uma Mãe francesa que faz um escândalo porque ela própria perdeu o avião e agora não tem dinheiro para comprar outro bilhete. O seu aveczinho vem-me pedir uma moeda depois de já ter tentato o mesmo com outras pessoas. Digo-lhe que não e o atrevido pergunta-me porquê. O meu francês muito enferrujado serve para pôr o fedelho junto da Mãe onde foi chatear a espanhola das informações.

Entretanto já partilho a tomada com um grupo de alemães que com uma tripla já puseram a zona de partidas com música, digamos que, ligeiramente pesada para o sítio onde estamos.

Nas conversas de aeroporto ouço uma erásmica espanhola a dar dicas aos seus compatriotas de como e onde visitar o Porto. Eles todos entusiasmados, comentam o preço do café.

O mundo é pequeno e ao entrar no avião reconheço a hospedeira. É espanhola, simpática e despachada. Hoje tem uma nervosa e novata "estagiária" que de tão nervosa que está esquece-se de tirar o colete de pista e já passaram vários minutos desde que ela entrou no avião.

Não sabe com soltar a escada e atrás dela o português e a espanhola fazem-me rir enquanto a pobre coitada dispara a uma velocidade louca e desincronizada com o video as instruções de segurança.

Estamos quase a levantar e ela ainda não tirou o colete salva vidas de demonstração. Ela é sem dúvida a pessoa mais nervosa dentro de todo o avião. Durante toda a viagem o português e a já conhecida espanhola conversam sobre as suas vidas e a espanhola mostra-se interessada em viver em Portugal.

Passamos por cima de campo alegre e daí a minutos tocamos na pista e acaba estas férias muito boas. Valeu a pena e foi sem dúvida uma muito boa semana.


PS- Este foi o post que mais demorou a ser escrito até hoje aqui. Em princípio não será o último, mas se Budapeste não acontecer, não sei o que poderá acontecer.

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