AViajar faz bem ao pensamento e ao equilíbrio mental. Não diz o Prof. Caramba, mas digo eu! Findadas que ficaram as férias com as suas festas, festinhas e festarolas de Fafe, ou então simplesmente desde que iniciei a minha procura activa de emprego, já visitei a capital quatro turísticas vezes. Se vos pareceu ouvir um fffff constante na vossa cabeça, ou estão a ler com atenção, ou viajam num barulhento e apertado inter-cidades da CP.
Convém esclarecer que este meu blog é o meu livrinho seboso das minhas aventuras por terras forasteiras, onde me esforço por anotar pedaços de momentos com dois objectivos. O primeiro, é consequência da vontade de partilha, mesmo que apenas com o vento, das coisas boas da minha vida. É que ter uma vida cheia de coisas boas e não as poder orgulhar é uma vida vazia. O segundo é, de longe a longe para já, e mais a miúdo quando for bem para lá de graúdo, poder entrar na minha frouxa cabeça e destapar do pó os meus neurónios memoriais despoletando uma vida viajada que terá já voado.
Viajar de transportes públicos tem prós e contras que qualquer um identifica de uma forma mais ou menos trivial. Todavia, e não é de agora que sinto tal, viajar segundo horários dos transportes públicos, com o natural tempo prévio na estação ou aeroporto, a preparação no dia anterior para planos alternativos, os atrasos e tudo mais, faz-nos baixar como que o ritmo biológico e concentrar em viver a vida fora da rotina, do previsto e do certo. A frustração de estar preso num comboio liberta-nos para o pensamento mais relaxado e calmo que nos leva à serenidade de estar num comboio onde a maior responsabilidade é saber do bilhete para mostrar ao revisor, ou saber que o nosso destino final é o fim da linha e por isso não vamos sair na estação errada.
Mas então, porquê Lisboa para um post? Se tem encanto sentir o passar cadente das travessas da ponte sobre o Douro, ainda o sol não nasceu e nos enche de orgulho o casario que vai da ribeira até à foz, então como descrever aquele brilho colectivo nos olhos, no fim de mais uma semana de trabalho, com que todos os passageiros parecem estar perfumados aquando do regresso ao Porto? As cortinas afastam-se, os sonolentos despertam, o senhor da janela dá espaço para que o do corredor consiga contemplar, que consiga o do outro lado do corredor e ainda o da outra janela. É um orgulho nacional atravessar o Douro com as Guimarães no horizonte.
Hoje o vento sopra de um lado para o outro, empurrando a chuva ora para um lado ora para o outro e o sol está cinzento e escuro, mas ao atravessar o Douro vou tirar uma foto para me lembrar do dia em que a Dinamarca foi ao Dragão perder contra a nossa selecção.
Posto este desígnio que no norte é-se mais Português, esclarece-se a declaração de Lisboa como cidade forasteira!
A primeira viagem era só para deixar claro a mim mesmo que quando se está à procura de emprego deve-se ser profissional, isto é, é da procura de emprego que se vive. Confuso? Procurar emprego hoje em dia apesar de ser uma tarefa bem mais complexa que há quarenta anos, é bem mais simples. Há quarenta anos havia trabalho para todos e quantos mais filhos mais trabalho se podia satisfazer. Depois veio a eficiência e a mania que uma pessoa podia fazer o trabalho de cinquenta e ninguém se apercebeu que os 49 restantes teriam o fado de fazer o trabalho de 2450 e assim foi criada a máquina do estado onde há milhares de pessoas que nada fazem porque pertencem aos 49 que têm uma pessoa competente e munida das mais modernas ferramentas de trabalho a fazer-lhes o seu trabalho.
Hoje em dia é lixado ser-se esse gajo que tem a pinta de saber o que faz, como se faz, e que engendra grandes soluções e planos para que a sociedade seja cada vez melhor. A parte fácil é a internet, inventada pelo 1 dos 50, que nos permite estar em casa às 5:30 da manha, em pijama e na nossa caminha a inscrever-nos em empresas de recrutamento.
NR – O autor não põe de parte ser gestor duma PT e de longe a longe ter que ir a umas comissões de inquérito dizer umas babozeiras e voltar depois ao seu escritório no parque das nações.
Factos históricos à parte, foi uma dessas empresas, a HRprofiler, que me ligou para uma entrevista em Lisboa. Depois da aborrecida negociação, lá consegui saber que a empresa a recrutar era a SIEMENS e o trabalho – estágio profissional – era para a área de automação. Automação não é propriamente o que me fascina… 5 amperes para mim é corrente de fuga e trabalhar com 0,01 amperes… bem é corrente na mesma pensei eu. Lá agendei, ou perceba-se, marcaram-me o dia como se da matança do porco se tratasse.
(...) Dali aos escritórios da HRprofile são dois minutos e a entrevista correu tão bem que a meio da mesma comecei a sentir umas trocas de olhares entre a mulher que me entrevistava e estava à minha frente e o homem que havia ficado atrás de mim. Já começava a ocupar o meu pensamento com cenas dignas de Dalí mesmo ali atrás de mim, quando a mulher resolveu interromper a entrevista. Conferenciaram comigo ali na virtude – ai que eu sou tão convencido!!! - e facilmente concordaram usando meias palavras e frases incompletas que me iam transferir para outro recrutamento, também da SIEMENS. Ainda hoje estou para perceber se o que me aconteceu foi mesmo real, ou se fazia parte de um plano conspirador contra mim para captar a verdadeira essência da minha pessoa, avaliando-a como eu nunca a serei capaz de descrever.
A verdade é que no mesmo dia fiz os testes psicotécnicos e mais treta daqui, treta dali, outro candidato à mistura e tal e estava de volta com o JA ao Porto, agora como candidato a um lugar na SIEMENS MOBILITY.
Dias depois lá me congratulam sem grande entusiasmos de parte a parte que fui bem sucedido nos testes psicotécnicos. No dia em que os testes psicotécnicos ditarem o meu afastamento duma selecção de emprego, é um bom dia para ler o meu blog e recordar os meus dias repletos de sanidade mental. Entrevista marcada e lá vamos nós desta vez sem a ajuda do JA.
Para provar que Lisboa é realmente uma cidade forasteira está a necessidade de arranjar dormida em casa do Hugo, o gajo que o Tim dos Xutos queria ser!! Fomos juntos de AX até ao Porto e daí partimos pela Europa fora de comboio na nossa grande aventura…ah.. pois, é a ida a Lisboa.
Pode-vos parecer estranho, estúpido e de quem nunca viu melhor, mas dormir no colchão do sofá emprestado no chão traduziu-se numa bela noite de sono onde não houve lugar sequer a ansiedade e lá acordei eu cheio de energia, vontade e confiança para ir de fato e gravata à SIEMENS em Alfragide. Como aventura que é, lá fui a pé, de metro e de táxi até ao destino. Cheguei imensamente cedo, mas nunca ninguém saberá, porque fui dar um passeio ali por perto, fazendo horas. Na entrevista lá tivemos que nos apresentar, provando que sabíamos falar em inglês e demonstrar que eramos gajos cheios de potencial para Siemenar!! Depois lá veio a muito em voga “dinâmica de grupo” a fazer lembrar o “house meeting” que me tive que sujeitar em Arnhem para convencer os meus agora ex-companheiros de casa que eu era melhor que os demais ali presentes.
Correu bem. O problema era sobre mercados energéticos e só me apetece partilhar o emproado pensamento: Além de mim, ninguém fazia a mínima ideia do que estava a falar, e houve alguém na sala que deu conta disso e deixou transparecer um sorriso após uma das minhas intervenções.
Formalidades cumpridas, esquecido o cartão de visitante em cima da mesa e recuperado o cartão de visitante que estava, lá vim embora. De carro! Se duas horas e meia dão para os psicólogos conhecer os candidatos, também as mesmas duas horas e meias deu para eu criar empatia suficiente com um dos candidatos que me ofereceu boleia até ao Marquês. Foi Deus a retribuir a boleia que eu dei ao Alemão no fim da entrevista da GALP há uns meses atrás. Este era Português, mas vive em Itália, trabalha para Worlpool e não queria vir para Portugal para fazer um estágio. Menos um, portanto. ;)
Já de banho tomado e lá fui eu ter com a Clarisse à estação … do marquês… Sei lá, uma pessoa no estrangeiro perde-se um bocado, né? ;). Tomámos o nosso drink enquanto esperávamos pelo Astronauta, e pelo Diogo e sua dama. O Diogo é um dos poucos gajos verdadeiramente espertos da Feup e que está a viver a sua primeira semana em Lisboa depois de ter conseguido um cobiçado lugar como trainee na… GALP!! Aquele primeiro recrutamento que eu fui, e queria mesmo ter conseguido o lugar. (Pelo menos até à conversa no jantar..)
Dali ao pátio interior de uns prédios foi um instante e em pouco tempo e muita fome lá estávamos nós a degustar-nos, felizes e faladores, com uma pizza cada um. Calzone… provavelmente a minha pizza favorita. Cebola e Atum, Capriciosa e Calzone, são o meu TOP 3.
Dali fomos tomar café a um tasco já com as coordenadas do bairro alto no nosso sistema para o passo seguinte. A Clarisse cortou-se e não quis pagar um copo, prometendo por tudo que de melhor tem na vida que me pagaria na primeira oportunidade, não foi mon petit?! Deixa-te andar… não aprendas a cozinhar, mas cozinhar mesmo, e não me convides para um jantar mundial no teu appartment.. não não…
É uma boa oportunidade para deixar aqui então na minha sebentazinha que um dia, estudava eu no ISEP e fui jantar a casa de uma miudinha, loirita, gorduchinha – agora podre de boa ;) - e muito simpática que me prometeu um frango de sal. Nem me passando pela cabeça que fosse realmente um frango de sal - só conheço frango de frango ou frango de barro e até esse foi promovido a galo – nem sequer me preparei psicologicamente para o que aconteceu naquela noite. Só não chorei, porque Deus fez as lágrimas de água e sal … e eu não podia alocar uma molécula de água para tarefas menores.
Ainda hoje a Clarrisse e a Ana juram a pé juntos o frango calhou mal, mas podia ter ficado comestível. Se o frango tivesse 2 kg, então foi envolto em 4 kg de sal, e teria ainda mais 1 kg nas suas entranhas. É impossível haver tamanha receita, nem a Lurdes Modesto!!
Ainda hoje a Clarrisse e a Ana juram a pé juntos o frango calhou mal, mas podia ter ficado comestível. Se o frango tivesse 2 kg, então foi envolto em 4 kg de sal, e teria ainda mais 1 kg nas suas entranhas. É impossível haver tamanha receita, nem a Lurdes Modesto!!
Clarisse, não te rias assim, que a Novabase está a ver-te!!
E tal, como o post que escrevi quando ia de Odense a Aarhus, também este vai ficar pelo meio que a viagem está acabar e as palavras há já muito que não saem com o mesmo encanto. Vale-me que daqui a nada já vejo o Douro a sorrir para mim.